Astroturismo: a derradeira viagem

Sempre que uma estrela cadente ilumina o céu, um satélite cruza as estrelas, ou nos deparamos com a imensidão da Via Láctea sobre o horizonte, sentimo-nos fascinados. Esse fascínio vem acompanhado de algumas questões existenciais. Por que estamos neste lugar do Universo? O que esconde a imensidão negra do céu? Estará alguém à escuta do outro lado?
Do fascínio à navegação
É esta evocação da curiosidade, da exploração e da descoberta (por esta ordem) que liga a astronomia ao mundo das viagens. Como se costuma dizer, se não fosse o desenvolvimento da tecnologia, ainda hoje estaríamos a viver dentro de cavernas. O que nos distingue de outras espécies é, essencialmente, o desenvolvimento do cérebro, e com ele, conseguimos não só conjecturar as mais mirabolantes perguntas sobre o cosmos, como conseguimos encontrar explicações para o seu funcionamento.
Existe, curiosamente, um efeito retroactivo! Ao longo de milénios, o Universo parece ter incitado constantemente o ser humano a seguir viagem. As estrelas fornecem aos homens instrumentos de navegação para que ele possa ir em busca de novos mundos. São exemplos disso a orientação para norte da estrela polar, frequentemente avistada pela civilização viking, ou o mapeamento das constelações no céu feito pela antiga civilização minoana em Creta.
A comando das estrelas, inventámos a bússola, o astrolábio, a balestilha, e, mais recentemente, os sistemas GPS (sigla para Global Positioning System):
Fig. 1 - Bússola chinesa de 1760
Fig. 2 - Astrolábio persa
Fig. 3 - Representação artística de um satélite GPS orbitando a Terra
Um entusiasmo crescente
O aumento das deslocações relacionadas com interesses astronómicos teve também influências sociais. Se no século XIX já começava a ser evidente o interesse pela pirotecnia dos espetáculos proporcionados pelos avanços científicos, também nesse século assistimos à construção de vários planetários e ao aparecimento da astronomia nos palcos de teatro.
No século XX, os astros pareciam mais tangíveis do que nunca. O surgimento da indústria espacial fez fervilhar a Guerra Fria, o que resultou em avultados investimentos no desenvolvimento desta tecnologia. Em parte graças ao presidente J. F. Kennedy, o Homem alunou. Este acontecimento mudou a História e o valor da competência humana.
Eventos como a chegada da missão Apollo 11 à Lua em 1969, o perélio do cometa Halley em 1986, ou a descoberta de evidências relacionadas com buracos negros no séc. XXI, têm feito o Homem sonhar. Estes avanços da ciência nas últimas décadas popularizaram a comunicação científica e tornaram possível alguns dos mais mirabolantes episódios de ficção na TV.
Hoje, são vários os locais dedicados à exploração espacial e às observações astronómicas acessíveis ao público.

Fig. 4 - Espectadores do lançamento da nave Apollo 11, no Cabo Canaveral, em 1969. Créditos: David Burnett
O que é o Astroturismo?
Astroturismo é uma expressão que abrange todas as viagens que são motivadas por interesses astronómicos.
Podemos incluir:
Visita a locais que documentam ciência de caráter astronómico: observatórios, planetários, centros de tecnologia, museus de história natural
Visita a espetáculos e exposições com inspirações astronómicas (obras de Van Gogh, Calder, Warhol, Kandinsky, composições de Chris Warner)
Viagens com motivações arqueoastronómicas (visita a pirâmides, parques do solstício, calendários anciãos)
Escapadinhas à poluição luminosa das cidades e, em especial, visita a lugares com certificação Starlight
Eventos de astrofotografia
Testemunho de fenómenos astronómicos: auroras boreais, eclipses ou chuvas de estrelas
Visita a crateras de impacto
Testemunho de eventos relacionados com a exploração espacial (ex. lançamento de foguetões, satélites, sondas, entre outros)
Turismo espacial: experiências de viagem na órbita da Terra/gravidade zero
Qualquer outra viagem com motivações astroturísticas
Deixamos-te algumas sugestões de lugares que te vão fazer sonhar com as estrelas por todo o mundo:
1. Deserto de Atacama, no Chile

Fig. 5 - Valle de la Luna, Chile
Esta região da América do Sul, para além de uma das mais secas do planeta, é também uma das menos iluminadas e com menos densidade de partículas de pó na atmosfera, o que possibilita a observação de um céu quase imaculado. Aqui poderás visitar de forma gratuita o observatório ALMA, fazer inspiradoras tours astronómicas durante a noite, ou visitar o “Valle de La Luna” que, apesar do nome, apresenta paisagens inesperadamente marcianas.
Embarca nesta viagem: "Do Salar de Uyuni ao deserto de Atacama" pela agência de viagens de aventura The Wanderlust
2. Auroras Boreais no círculo polar Ártico

Fig. 7 - Auroras boreais na Islândia
País que mistura a natureza majestosa do ártico com a modernidade dos países nórdicos, este é um dos poucos lugares no Mundo onde poderás observar o fenómeno das auroras boreais.
Embarca nesta viagem: "Islândia: a luz do ártico" pel agência de viagens de aventura NOMAD
3. O templo de Chichén Itzá, no México

Fig. 8 - O Chichén Itzá é património mundial da UNESCO e foi nomeado uma das 7 Novas Maravilhas do Mundo.
Os Maias foram astrónomos visionários para a sua época, tendo mapeado os movimentos de objetos celestes de forma notável. As suas construções cerimoniais eram frequentemente alinhadas de acordo com os pontos cardeais, representavam calendários, ou marcavam o solstício e o equinócio, sempre com incrível precisão.
O templo de Chichén Itzá é um bom exemplo, mas também poderás visitar a península de Yucatán ou as ruínas de Tikal na Guatemala para mais referências arqueoastronómicas.
Embarca nesta viagem: roteiro de viagem pelo Mundo Maia pelo blog Alma de Viajante
Imagens:
Capa - Photo by Hu Chen on Unsplash
Bússola - Victoria C, CC BY-SA 4.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>, via Wikimedia Commons
Astrolábio - Whipple Museum of the History of Science, CC BY-SA 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0>, via Wikimedia Commons
GPS - NASA, Public domain, via Wikimedia Commons
Espectadores em 1969 - David Burnett para a Air & Space Magazine
Vale da Lua - I, Luca Galuzzi, CC BY-SA 2.5 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5>, via Wikimedia Commons
Aurora boreal - Photo by Joshua Earle on Unsplash
Chichén Itzá - Dronepicr, CC BY 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/3.0>, via Wikimedia Commons
Fontes:
https://www.airspacemag.com/airspacemag/summer-of-69-moon-landing-180971736/
https://earthsky.org/brightest-stars/polaris-the-present-day-north-star
http://ecuip.lib.uchicago.edu/diglib/science/cultural_astronomy/cultures_vikings-2.html
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17460654.2017.1319037
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261517709001666
https://www.nytimes.com/es/2018/11/19/espanol/atacama-astronomia-estrellas.html
http://www.bbc.com/travel/story/20191017-a-mosque-in-the-land-of-midnight-sun
https://asd.gsfc.nasa.gov/blueshift/index.php/2010/07/08/maggies-blog-ancient-astronomy/
https://www.bis-space.com/2020/05/21/24764/chris-warner-composer-of-the-cosmos